O futuro do setor de shoppings

shoppings

Em todo o Brasil, centenas de shoppings centers exibem um cenário familiar: os espaços uma vez ocupados por gigantes do varejo, como Polishop, Americanas, Marisa e Tok&Stok, agora permanecem vazios. A crise que afetou o varejo brasileiro impactou os shoppings no momento em que começavam a se recuperar do impacto da pandemia. Isso levanta questões sobre o futuro desse modelo de negócios. Será que os shoppings estão enfrentando uma nova crise? Qual é a viabilidade e o futuro desse segmento no Brasil?

Em busca de respostas, o LinkedIn Notícias buscou a opinião de especialistas do setor que, mesmo diante das turbulências atuais, se mostram otimistas em relação ao modelo de shoppings e sua permanência no mercado brasileiro. “Apesar do fechamento de algumas lojas varejistas, não há sinais concretos de que os shoppings desaparecerão no Brasil. Questões culturais e climáticas ainda mantêm esses espaços como verdadeiros oásis urbanos”, afirma a pesquisadora de tendências, Daniela Horta.

Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da consultoria Gouvea Malls, enfatiza que, apesar do fechamento de grandes varejistas, não há uma fuga em massa de lojistas dos shoppings. “Podemos comparar essa situação a um ‘ajuste de portfólio’. Alguns setores e empresas específicas podem reduzir sua presença, enquanto outros segmentos e marcas aumentarão seus espaços”, afirma.

Embora o futuro dos shoppings não esteja ameaçado, o fechamento de lojas varejistas está acelerando tendências e a necessidade de adaptação que já estavam em pauta no setor.

Um dos maiores desafios dos shoppings atualmente é compreender como seus espaços podem atrair e atender melhor aos novos hábitos de consumo no pós-pandemia. De acordo com dados da Associação Brasileira de Shoppings, a maioria, cerca de 56%, dos consumidores no país não visita um shopping center com o objetivo de fazer compras. Os shoppings estão se tornando cada vez mais espaços de lazer e experiência.

Nesse novo cenário, as áreas de conveniência e serviços – que já vinham crescendo – devem ganhar ainda mais importância. Grandes redes de shoppings no Brasil estão investindo na expansão das áreas de alimentação e na incorporação de serviços, como consultórios médicos e até campi de faculdades.

“Os shoppings precisarão desenvolver estratégias para coletar e utilizar os dados de seus visitantes em benefício de seus lojistas e anunciantes. Isso significa uma transição mais rápida do modelo de imóveis para o modelo de plataforma de negócios”, afirma Marinho.

Exemplos internacionais

Para vislumbrar o futuro dos shoppings no Brasil, além do que já está em andamento, Gisele Paula, CEO do Instituto Cliente Feliz, uma empresa focada em experiência do consumidor, olha para o exterior. Entre os exemplos interessantes está o caso da Coreia do Sul, onde os shoppings foram transformados em “life spaces”. “Lá, galerias de arte e salas de concerto convivem com lojas”, explica.

Na Espanha, os shoppings têm priorizado a conexão com a comunidade local, promovendo feiras e espaços de convivência. “Pensar nos shoppings como ecossistemas nos quais os clientes podem atender a diversas necessidades do dia a dia, incluindo lazer, trabalho, cuidados e compras, pode ser o caminho a seguir”, defende Paula.

De acordo com a pesquisadora Daniela Horta, outro pilar essencial para o shopping do futuro é a sustentabilidade. Ela destaca o caso do Burwood Brickworks, inaugurado na Austrália em dezembro de 2019, como um exemplo inspirador. “Esse empreendimento se autodenomina o shopping mais sustentável do mundo: toda a energia utilizada provém de fontes renováveis, a água é tratada e reutilizada, e parte dos alimentos vendidos nos restaurantes é proveniente da plantação no terraço do prédio e das árvores frutíferas que decoram a fachada”, explica.

A empresa colombiana Viva, braço de shoppings do grupo Exito, também tem investido em sustentabilidade em seus projetos. Para eles, o “conceito verde” nos shoppings atende não apenas às demandas de preservação ambiental, mas também à busca das pessoas por um maior equilíbrio em suas vidas no pós-pandemia. Juanita Gutierrez, diretora da Viva, afirma: “Os shoppings centers devem evoluir junto com a sociedade, e a sociedade está buscando mais áreas verdes em suas vidas. Acreditamos em centros comerciais mais sustentáveis”.

A empresa está construindo um dos projetos mais ambiciosos do setor atualmente: o primeiro shopping resort da América Latina. O complexo de 130 mil metros quadrados inclui uma lagoa artificial, clube náutico, teatro, hotel e, é claro, lojas. Este projeto de 240 milhões de dólares está previsto para ser concluído até 2031.

“Nem todos os centros comerciais terão essa dimensão, obviamente, mas todos buscarão oferecer experiências multidimensionais”, afirma Gutierrez. Segundo o grupo, o shopping do futuro se baseia em três pilares: comunidade (refletindo as necessidades locais), experiência (com foco em entretenimento e gastronomia) e conveniência (um mix de serviços). Resta saber se essa visão será adotada no Brasil.

Tags:
Deixe um comentário
Facebook
YouTube
LinkedIn
Instagram